De Santiago a Sagres
Como um país que vai acabar
adormece sobre as páginas de um livro,
de costas para o mar.
Na boca de uma montanha
despontam os primeiros dentes de sal
a marcha-atrás de uma baleia
levanta muito vento na areia
os dias mergulham virados para o fim
Como um país que começa de novo
renovado na língua do oceano
as estradas são de terra batida
precipício iluminado por um passeio de bois
Três árvores a motor
desafiam as raízes
em demoradas vénias ao mar
Como um país que morre e renasce no mesmo sítio
no mesmo segundo
segue as pegadas de gaivota
numa bebedeira de amor
e acorda para o tempo numa toalha de pedra
apontada para o sol
engenharia de cegos
vertigem cabal.