domingo, dezembro 9


"Eu está apaixonada pelo teu eu. Então nós é."



Clarice Lispector in Uma Aprendizagem ou O livro dos Prazeres

terça-feira, novembro 6

Xadrez





É branca a gata gatinha,
é branca como farinha.

É preto o gato gatão,
é preto como o carvão.

E os filhos gatos gatinhos
são todos aos quadradinhos!

Sidónio Muralha


* O jogo de xadrez, Vieira da Silva

terça-feira, outubro 9

Santos

Abraçados pelo cristo-rei
brindamos com uma pizza gigante e
barata, quatro patas para o ar, antenas
sintonizadas no cristo
rei da ponte que ilumina e do
saxofone que o embala à
noite, noite em que 90% dos carros
que passavam na ponte ouviam o relato
da bola (o Benfica está a
perder líquido com cada barco
que passa. Hoje é noite de
triângulos circulares circundam a
esplanada que não fica bem com o
funk, bebi um
café com cão negro que dorme
e canta o sono.

*Catarina Mendes, Emília Rebelo, Sílvio Santos

terça-feira, setembro 11

Camaradáver esquisito

É outra vez domingo, apesar do esforço do lago e dos
braços de plantas e de cravos, não os que secaram mas os que agora
nascem
outra vez, como o domingo em que pela primeira vez te senti os
braços de ternura de desiquilibrada ternura, aos

pulos.
Por trás de cada dia está o maior sonho do mundo
da criança mais pura e quatro estradas sem
fim, mas sem m, assim como ti, uma nota

inventada
por três anões sem medo - fábula dos dias
de janela aberta e dos calendários de amor,
inteiros de vidros que não podemos pisar senão faz

dói-dói
- os sonhadores também sangram - mas este dia
é demasiado azul, sem espaço para rotativas
ambulâncias a fazer ti-nó-ni. Levam as pessoas que,
em vez de cheirar, beberam

cravos,
como a fantasia se cura com as sementes de flor,
como os astros despistados e a ternura do teu traço.
Escreves flores no meu
desejo água. água para saltar. Salta camarada

Allé Allé
, se me foges todos os dias, um domingo
para quê? para quem? Se vai longe a luz blá blá

blá.
Mas para dias asssim há sempre um fim. Escolhe-
te acostas, te desmotivas. Só tento o riso, o teu, mas
sou um tanto ao quanto desajeitada.
Meu ajeito

segunda-feira, agosto 20

O rei Hula Hula esqueceu as matracas no comboio
mas caminhou até ao limite.
Uma linha de areia separa-o do mar. Canta.
E o mar dança para sua majestade.

Sentir-te a respiração no peito
a subir e descer
como uma estrela na noite
expiras a manhã de todos com milímetros de ar,
a manhã das crianças que não têm escola
e dos que acordam com uma flor no nariz.
Cheiras bem.

O rei uiva baixinho.
Observo-te a tocar a espuma,
o vento traz a melodia da tua mão.
É verão. Cheiro o amar-te.

sexta-feira, julho 20



Amanhece ao contrário no teu peito.
A lua desce devagar o degrau das nuvens,
cada camada é um compasso de tempo

O galo canta de trás para a frente
e de patas para o ar
Os vizinhos regam flores em marcha-atrás

Uma flor a florir para dentro
por fora do vaso
o canto da manhã desenha pássaros sonoros
duas asas no teu espreguiçar

sorris em compasso de tempo demorado
numa nuvem pequena
despes a noite do teu corpo
fico com a noite nas mãos enquanto te vestes

a caminhada é necessária até a atirar ao mar
no primeiro mergulho
A hipotermia é quente
estes dias nossos são um infinito de sol

por amanhecer assim
adormeço no teu ombro a sonhar com o dia.

segunda-feira, junho 4

Second Midnight


«Não há passos divergentes para quem se quer encontrar».

domingo, maio 20

"É tão bom, uma amizade assim"



Nós temos os melhores dos melhores amigos.
Gosto dos nossos amigos.
Como estes que fazem isto
e isto.

terça-feira, maio 1

O amor é como duas borboletas que estivessem
sobre uma rosa, a mais linda de todas do jardim.
O amor tem que haver.
Se não houvesse amor não havia nada bonito.
O amor são duas estrelas a brilhar, a brilhar.
A rosa e o sol são o amor.
O amor é a poesia.
O amor são dois passarinhos a construir a sua
casinha.
O amor é não haver polícias.


Inácio Cruz, no passado, aos 10 anos.

sexta-feira, março 16

Casa inacabada com baloiço na janela

"Moro numa casa inacabada
feita de terra molhada
com o céu às cavalitas
Entra, mas desculpa a confusão;
anda tudo pelo chão,
não contava com visitas

Comigo mora gente tão diferente
que às vezes, pontualmente,
só falamos por sinais;
Cada um tem na sua bagagem
um bilhete de passagem
pelos pontos cardeais

Na sala, uma velha cartomante
lê ao cavaleiro errante
um destino vencedor;
As cartas falam de perdas e danos
Para, no correr dos panos,
encontrar o seu amor

Ao fundo, dorme um soldado sisudo
com umas botas de faz-tudo
e uma paixão de aluguer;
O bêbado que está no quarto ao lado
chora sempre em tom de fado
o amor de uma mulher

Aquela que tem o corpo na esquina
diz que também foi menina
Há-de um dia ser feliz
O homem que a usou pelos quintais,
como é norma entre iguais,
compreende o que ela diz

Em cima fica o quarto dos amantes,
dos poetas, viajantes
e dos loucos sem lugar;
Pintaram um baloiço na janela
com a luz de uma aguarela
para a Lua baloiçar

Assim somos vizinhos de outras crenças,
de outros livros e sentenças
Outras formas de oração;
Mas quando a noite traz os seus momentos
escapa destes aposentos
um bater de coração

Revela-se a verdade nua e crua:
Chove mais do que na rua
Trago o fato ensopado
Aqui qualquer um é vagabundo,
esta casa é todo o mundo
Falta só pôr um telhado"


João Monge

quarta-feira, fevereiro 21

Aqui Nasceu Portugal II

Na carripana a caminho de França, para a capital das
luzes ou coisa assim que brilham, brilham e depois
caem azuis, ou caem
amarelas?
As ainda não amarelas sexta-feiras sem
água que me cresce na boca quando tenho
sede
mas daquela que dá pontos nos postos de abastecimento
de beijos, de lábios. Beija-me sem lábios. Beija-me
com a pele, Beija-me com a parte de dentro
dos beijos
, dos que afastam todos os mares de pedras e an-
seios que cubro e tu cobres, que eu descubro e tu
cobres
a minha ausência de sentidos com a ternura
contínua, continua, continua. Não há fim que se consiga manter
fim.
E recordá-lo tantas vezes quantas as precisas para
só viver, com asas de pombo apaixonado, esse
momento - início, de momento em momento com
pétalas a secar no dossier. Rosas e laranjas e frutos e flores
e cores,
ou então candeeiros pálidos pendurados no tecto,
à espera da tempestade da flor silvestre.

sábado, fevereiro 3

Arrumei a casa.

Porque a meia noite é todos os dias um céu estrelado.

segunda-feira, janeiro 29

Aqui Nasceu Portugal

- O que és quando acordas em mim?
- O pássaro quadrado no desenho de um menino pequeno.

- O que é o estendal da fantasia?
- É o polvo com braços de flores.

- O que são poemas?
- São grandes, fortes e bebem água.


domingo, janeiro 14